terça-feira, 27 de julho de 2010

Sobre Política e Aranhas

Estava pensando sobre política. E depois de algumas reflexões, cheguei a conclusão que o "fazer" política é parecido ao processo das aranhas em "fazer" a teia. E depois, pesquisando sobre como as aranhas constroem suas teias percebi que existe um tipo de aranha que caracteriza a política atual: é a viúva-negra. Ela produz um tipo de teia com desenhos irregulares, difíceis de se identificar. Totalmente individualizada. Não se parece geometricamente com uma construção. Exatamente como na política atual. Não estamos constrindo nada para o coletivo. Cada construção da teia política é pensando na projeção política “teiológica” de cada um. Existem algumas raras, raríssimas exceções.
Bem, temos outro tipo bem conhecida, a chamada aranha caranguejeira, produz a teia densa e no chão que serve como esconderijo. Todas tem um objetivo, prender suas presas, morar nelas e ter um ninho nupcial. Há algo na política que passa por esse processo, primeiro você tem um processo de encantamento, enamorarmento, passa a “fazer” a política por ideologia, utopia, sonhos, bem coletivo, lutar pelos menos favorecidos, pela poesia da política, depois alguns começam a morar nessas teias, começam a gostar, percebe que muitos sonhos são irreais nessa empreitada. O que vale mesmo é a negociação, é jogar o jogo que rola, e aí começa a fazer o processo de mumificação das ideologias e tudo o que regia a política ideológica, o bem comum. E passamos para o processo de identificação com os que antes não fazim parte da nossa teia porque temos que fazer parte do processo. Temos que operacionalizar. Então vamos tecer como as viúvas-negras. Traficar influência, negociar postos de trabalhos, favorecer possíveis cabos eleitorais, e muitas ferramentas operacionais que antes não constavam em nosso “modus operandi”.
Por fim, as coitadas das aranhas e suas teias devem estar tristes agora pelo fato da comparação.


3 comentários:

  1. Belíssimo texto, realmente é complicado hoje ser político, sustentar tudo que disse ontem e reafirmar tudo que dissemos hoje, a cada dia nos contradizemos em situações antes vistas como banais.

    Mas aí me lembro do gênio Raul: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".

    Já dizia meu melhor professor da política: "o que dá pra negociar, agente negocia: cargos, vantagens, prioridades. O que não se pode negociar são os valores: a ética, a honra e a honestidade."

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  2. Bom conferir o que escreve aqui na internet. Parabéns pelo blogue. postei em meu site http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/sobre-politica-e-aranhas-por-flavia-amancio

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  3. Depois que li seu texto, em especial passagens como "não estamos construindo nada para o coletivo", bateu-me uma sensação de estar lutando em vão na política, de que nada se tem mais jeito, de que o jogo de interesse prevalecerá sempre. Mas, daí me lembrei de alguns personagens que me fazem continuar na luta, não como aranhas, mas como formiguinhas, fazendo o trabalho incansável e de forma coletiva, com o objetivo de buscar o melhor para a comunidade (colocada aqui não como pequena região). Personagens como Che, Carlos Marighella, Nelson Mandela, Lula, Assis... (Sem nenhuma demagogia por ser seu esposo, e sim pelo que conheço dele). Mesmo que fosse só por eles, já valeria à pena continuar lutando, continuar acreditando nos sonhos deles, que com certeza são de tantos outros, e continuar "fazendo a política por ideologia, utopia, sonhos, bem coletivo, lutar pelos menos favorecidos".

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